Por muito tempo, a Amoxicilina com Ácido Clavulânico (AMC) em antibiogramas de cães foi um verdadeiro desafio para os laboratórios veterinários e para os clínicos.
Na prática clínica, a prescrição por via oral é frequente, mas os resultados laboratoriais nem sempre correspondiam à eficácia terapêutica — especialmente em infecções causadas por Enterobactérias.
A ausência de Pontos de Corte Clínicos específicos para cães, aliados à extrapolação de diretrizes humanas, limitava a capacidade do microbiologista em emitir interpretações seguras e contextualizadas, gerando um cenário de incerteza, aumentando o risco do uso inadequado do antimicrobiano, exposição sub-terapêutica e, consequentemente, falhas terapêuticas e seleção da resistência antimicrobiana.
Mas essa realidade começou a mudar!
Em maio de 2025, o VetCAST (subcomitê veterinário do EUCAST) publicou o primeiro documento oficial com Pontos de Corte Clínicos (CBPs) para Amoxicilina com Ácido Clavulânico em Cães, contemplando as vias oral e intravenosa, com base em dados PK/PD, simulações de Monte Carlo e evidências técnicas robustas.
Agora, pela primeira vez, temos um respaldo científico específico para a Medicina Veterinária para orientar tanto a interpretação laboratorial quanto a conduta clínica adequada com Amoxicilina com Clavulonato em Cães.
Em maio de 2025, foi publicado o documento: European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing. Amoxicillin clavulanic acid / Dog: Rationale for the clinical breakpoints, version number 1.0, year 2025.
Oficialmente traduzido pelo BrCASTvet em junho de 2025, este documento estabelece Pontos de Corte Clínicos (CBPs – Clinical Breakpoints) para Amoxicilina com Ácido Clavulânico (AMC), nas vias oral e intravenosa, especificamente para cães.
Este é um marco relevante para a Microbiologia Veterinária, que busca cada vez mais precisão e embasamento científico na definição de suscetibilidade antimicrobiana.
Sobre o documento
O que muda na prática?
mesmo com doses altas (25 mg/kg 2x/dia), a exposição sistêmica alcançada por via oral não é suficiente para tratar infecções por Enterobacterales.
E os pontos de corte?
Para Enterobacterales, o Ponto de Corte Clínico para administração IV de Amoxicilina com Ácido Clavulânico é definido com MIC ≤ 8 µg/mL sob regime de alta exposição.
Para a via oral, não é possível alcançar exposição adequada, e por isso não há Pontos de Corte Clínicos aplicável para Enterobacterales nessa via, exceto para infecções do trato urinário, especificamente cistites.
Para Pasteurella multocida, Staphylococcus pseudintermedius e aureus e Enterococcus spp., Pontos de Corte Clínicos específicos e/ou recomendações também são apresentados, com orientações por via e dosagem.